Tendência não é a blusinha verde da vitrine, mas a seta que faz o consumidor comprar mais ela do que outras opções”. Ju Lopes
As tendências estão à nossa volta o tempo todo: na nossa casa, na nossa comida, na forma como nos comunicamos e nos relacionamos. De smartphones e coworkings a uma preocupação com alimentação mais saudável, muitas tendências de comportamento podem ser previstas através de algumas técnicas de coolhunting. O profissional coolhunter não tem bola de cristal, mas é treinado para ter uma visão mais nítida, e por isso consegue enxergar o que vem por aí antes dos outros.
Desenvolver essa percepção é importante para qualquer tipo de negócio, pois as tendências impactam não somente as indústrias de bens de consumo, mas também a construção civil, a área tecnológica, o setor financeiro, entre outros. E mudam cada vez mais rápido: no momento que você acabou de ler esse parágrafo, elas já podem ter se transformado.
Para prever tendências é necessária uma combinação de intuição, experiência e dados concretos. É um misto de ciências, matemática, arte e até um toque de mágica. É preciso voltar o olhar para o passado, o presente e o futuro.
Não basta analisar somente os desfiles e a moda de rua, mas ter um olhar atento para geopolítica, culturas locais, exposições de arte, música, cinema, influenciadores digitais, tecnologia, mudanças demográficas etc.
“A moda absorve e reflete os fluxos do mundo, capta os acontecimentos vivências subjetivas, fatores econômicos, políticos e culturais e as transforma em imagens, roupas e acessórios.” Cristiane Mesquita
QUATRO TERMOS PARA LEMBRAR
Trickle Up (Efeito Borbulha): é a tendência que nasce nas ruas e é absorvida pela elite.
Trickle Down (Efeito Gotejamento): é a tendência que surge nas marcas de luxo e que se replica para as massas.
Trickle Across (Fluxo Horizontal): é a tendência que aparece em vários lugares ao mesmo tempo.
Zeitgeist: um termo alemão que significa “o espírito do tempo”. É uma expressão que utilizamos para resumir em uma só palavra todas as particularidades artísticas, sociais e comportamentais de um determinado período – O que gera as tendências de comportamento. Afinal, a moda é muito mais do que a roupa: ela é a estética do comportamento.
AS 4 MACROTENDÊNCIAS

1.BEM-ESTAR E SUSTENTABILIDADE;
As novas gerações estão mais preocupadas com a experiência do que com o produto. Para elas, ser é melhor que ter. Nesse estado de coisas, o storytelling se torna imprescindível – ou seja, é preciso que haja um conteúdo por trás de cada produto. Por sua vez, o varejo precisa proporcionar a experiência e uma conexão emocional com seus clientes.
Existe hoje uma necessidade de eliminar excessos e ter produtos mais inteligentes, fáceis e simples. As peças sem estação estão em alta. Há uma maior valorização do produzido localmente e do artesanato, materiais naturais e boa qualidade: o consumo consciente. Há um crescimento no consumo de roupas e acessórios para prática de atividades esportivas, pois as pessoas estão mais preocupadas com a saúde e bem-estar.
Novas gerações estão mais atentas e com a mente mais aberta. Há uma busca pela espiritualidade. Uma vontade de se aproximar da natureza. Da mesma forma, há uma vontade de desconectar-se de redes sociais e da internet de modo geral para buscar a intuição. Cresce a busca pelo silêncio e conforto, um conceito típico dinamarquês: hygge (“aconchego”, em português).
Como podemos perceber, sustentabilidade é a grande tendência do século. Isso se reflete nos hábitos alimentares, atividades físicas, moda, beleza, turismo, etc. Mas a moda é uma das indústrias mais poluentes do planeta, ao mesmo tempo em que é uma das mais criativas.
Como essa macro se expressa na moda:
Roupas assimétricas, Pelos e plumas, Couro, Uso de tênis e meias, Tecidos confortáveis, Roupas esportivas, Roupas sem estação Listras, xadrez e estampas atemporais, Estampas étnicas, Artesanato, bordado, crochê, feito a mão, Tecidos de fibras naturais, como palha, linho, tricô, Materiais rústicos Tingimento natural e tie-dye, Tecidos reciclados, Estética simples e minimalista, Produtos feitos localmente, Customização e colaborações, Cores: neutras, terrosas, verdes, vermelho, branco.

2. VERDADE E DIVERSIDADE;
Durante muitos anos a moda foi uma indústria composta por uma elite, a qual poucos tinham acesso. Ela estabeleceu padrões de beleza através das revistas, campanhas e desfiles. Mas isso vem se modificando desde os anos 2000, com a expansão do acesso à internet – além de mais pessoas terem acesso à informação, as minorias passaram a fazer valer suas vozes, trazendo novos padrões e uma estética mais diversa na moda.
O sucesso dos reality shows, das redes sociais e dos youtubers são traços da nossa cultura. Trata-se de uma demonstração de que as pessoas passaram a buscar mais realidade e por isso a beleza real, com todas suas imperfeições, está em alta hoje em dia. O termo eu visto o que eu quero e o estilo pessoal estão em evidência, o que colabora para o trabalho do consultor de imagem.
Até não muito tempo atrás, certas características consideradas defeito ou falha, hoje são valorizadas como expressão da individualidade. Mais uma prova de como as novas gerações são mais abertas.
As minorias passaram a influenciar mais o mundo. A celebração da diversidade, da raça e das etnias está cada vez mais presente na moda. Tudo isso levou ao efeito das transparência das marcas, que aumentaram a customização para agradar esse novo público.
Como essa macro se expressa na moda:
Mensagens nas roupas, Look andrógeno, Marcas sem gênero, Capas, Estampas coloridas, Customização Arco iris, Power Dressing (terno e blazer), Lingerie para mulher real, Marcas latinas, Cores: rosa, roxo, laranja, amarelo, verde militar.

3. TECNOLOGIA E O INTERESSE PELO FUTURO;
Somos fascinados pelo futuro e pelas possibilidades que ele pode oferecer. E se podemos ter alguma certeza sobre o que vem por aí, é que as mudanças serão cada vez mais rápidas – afinal, no que diz respeito à tecnologia, avançamos mais nos últimos vinte anos do que em um século.
Mas é claro que a mesma tecnologia que aproxima pessoas e ideias, seja por meio das redes sociais, smartphones ou apps, também tem seus reveses, já que o uso demasiado ou descontrolado dessas ferramentas pode causar ansiedade, problemas de autoimagem e outros malefícios. Pior: nem sempre a privacidade do usuário é respeitada pelas grande corporações, abrindo brechas para a exploração de dados pessoais à nossa revelia.
As novas gerações cada vez mais percebem e se preocupam com essas questões. Muitos jovens ensaiam um movimento de desconexão, dando um tempo para as redes ou ao menos controlando mais seu tempo e seus hábitos online, procurando mais segurança – daí que cada vez mais plataformas se valem de redes de avaliação, fazendo com que as pessoas dividam experiências para garantir a qualidade de determinado serviço.
Tudo isso acaba se refletindo no posicionamento das marcas. As grandes corporações têm de mudar para acompanhar um novo consumidor – precisam ser mais criativas, inovadoras, inclusivas, transparentes e diversas.
A realidade virtual começa a aparecer no varejo. Produtos feitos com impressão 3D prometem revolucionar Relacionamentos com robôs e humanos já são realidade no Japão. Serviços que misturam personalização, inteligência artificial (IA) e tecnologia estão crescendo, assim como aluguel de roupas e serviços de assinaturas. Um mundo admirável está à nossa espreita.
Como essa macro se expressa na moda:
Tecidos metalizados e brilho, Uso do plástico, Materiais iridescentes, e translúcidos Novas tecnologias em tecidos, acabamentos e processos, Pochete e bolsas míni, Capas de chuva de plástico Cores: prata, lilás, roxo.

4.VINTAGE INTERESSE PELO PASSADO;
Você com certeza se recorda de que os anos 2010 tiveram forte influência da década de 1990, assim como os anos 2000 tiveram um revival da década de 1980 (os mais antigos devem ainda se lembrar da força com que a estética dos anos 1970 impactaram a década de 1990).
Esse movimento cíclico é próprio do que chamamos de Zeitgeist, e na prática mostra que vários aspectos da moda e do comportamento acabam reaparecendo a cada vinte anos, ressignificadas e buscando se acomodar no tempo presente.
Muito disso acontece porque, historicamente, os momentos de turbulência nos fazem olhar para o passa-do. Além de buscar uma sensação de familiaridade e segurança, o que as pessoas pretendem é buscar conforto na memória afetiva, assim como inspiração e forças para sobreviver e prosperar em um futuro incerto.
É importante notar que essa é uma tendência que muitas vezes se confunde com a sustentabilidade, já que um dos efeitos de ambas é justamente o aumento da procura por brechós e revendas, em que inevitavelmente as pessoas acabam se deparando com a moda de décadas anteriores. Afinal todas as macrotendências fazem parte de um mesmo “espírito do tempo” (ou Zeitgeist).
Como essa macro se expressa na moda:
Franjas, Tecidos como veludo e cetim, Coração, Xadrez, Babados, Pérolas, Meias, Estampa floral e bolinhas, Renda, Plissado, Western, Sapatos brancos, Jeans natural sem lavagem, Cintura marcada, Decote princesa, Sock Boots, Slouchy Boots, Mules, Bolsa Lady Like, Ombros marcados, Mangas bufantes, Cores: neon, tons pastel e dourado.
Para perceber os movimentos que mudam o mundo e apontam para o futuro, não nos cabe achar feio ou bonito, certo ou errado. É preciso olhar para tudo com a cabeça aberta, seja na moda, na economia, na política, nos livros ou no que for.